Atletas se dedicam à construção da aparência física perfeita. Para entendimento, o artigo se refere aos atletas que competem e inclui também aqueles que cultuam o corpo, utilizam as mesmas estratégias, mas não competem.
Considerando a cultura brasileira, que prioriza e valoriza o ideal de corpo perfeito, estamos incluindo aqui uma amostra significativa de pessoas.
A motivação para esse estudo independente que conduzo há muito tempo, veio de um post do atleta (hoje professor de Educação Física) Bruno Moraes (@brunomoraes_oficial) no Instagram.
Nesse post, o mesmo relatou a presença da depressão em sua vida.
Para mim, isso veio com muita surpresa, pois nota-se que o preconceito em relação a problemas psicológicos ainda é um tabu nesse meio.
O assunto não é facilmente discutido por atletas.
O Bruno Moraes desconstruiu esse conceito em 2013, falando um pouco do sofrimento que pode prejudicar qualquer ser humano.
O ideal de masculinidade, de “durão” e de ver emoções como sinal de fraqueza, faz com que atletas sofram calados por muito tempo.
Quando há patrocínio, alguns atletas podem temer a perda deste, á partir do momento que falarem a respeito do sofrimento psíquico que estão enfrentando.
Hoje somo mais de 17 anos de experiência profissional e posso afirmar que, voluntariamente, os atletas procuram ajuda somente quando os problemas psicológicos e psiquiátricos estão severos, causando significante impacto na rotina deles.
Infelizmente, quando procuram, os problemas já se tornaram muito enraizados, fazendo com que a reabilitação seja muito mais demorada (o que os leva a acreditar que os serviços de saúde mental realmente não funcionam).
Considerando a saúde mental desse grupo, a depressão, sem dúvidas, merece destaque.
O histórico de vida, traumas, propensão genética e características de personalidade poderiam causar uma desordem psicológica em algum momento da vida.
Porém, colocando o corpo e a mente sob imensa pressão, o problema psicológico ou psiquiátrico pode aparecer muito mais cedo.
Um estudo conduzido por De Moraes et al., (2019) com bodybuilders, apontou que durante a off-season (onde os atletas se alimentam melhor), as alterações de humor, raiva e outros fatores emocionais não foram significativas.
Porém, na fase de pre-contest, os índices de confusão, ansiedade e tendências depressivas aumentaram.
Pre-contest foi significativamente associado com aumentados níveis de fadiga, falta de energia, exaustão emocional, redução em bem-estar e na qualidade do sono.
Esses sintomas podem favorecer o aparecimento de episódio depressivo ou depressão.
Depressão é um fantasma que ronda os bodybuilders e pessoas afins.
Para contextualizar melhor, no Brasil hoje, segundo a OMS, por volta de 12 milhões de pessoas sofrem com a doença (5.8% da população).
Estilo de vida restrito, dietas de bulking e cutting, uso de esteróides anabolizantes, pressão de patrocinadores, deles mesmos e medo de falha, podem levar o atleta a ter oscilações de humor, fadiga, stress acentuado, problemas do sono, irritabilidade, agressividade, entre outros sintomas que talvez resultem em depressão.
A doença pode se apresentar de diversas formas, mas as características básicas são: falta de energia e motivação para a vida, tristeza, ansiedade, falta de sono ou dormir excessivo, pensamento de que talvez seja um “peso” na vida das pessoas, baixa autoestima, entre outros.
A presença de ideação suicida pode estar presente.
Agressão, hostilidade e hiperatividade podem ser sintomas de depressão também.
Uma avaliação clínica com profissional devidamente treinado é necessária para o diagnóstico.
Além da Depressão, ansiedade, dismorfia corporal, dismorfia muscular (vigorexia), transtornos dissociativos, transtornos alimentares e vícios (desde esteróides anabolizantes até outras substâncias como cocaína, por exemplo) fazem parte de achados bibliográficos acerca de bodybuilders.
Minha intenção é explorar cada um deles através de artigos e vídeos futuramente, a fim de conscientizar os atletas para o pedido de ajuda.
Fundamentando a idéia, Longobardi, Prino e Settanni (2017) estabeleceram a conexão entre dismorfia corporal (hoje dismorfia muscular ou vigorexia) e outros transtornos psiquiátricos em bodybuilders (competidores ou não).
Dismorfia muscular (ou vigorexia) é caracterizada pela distorção da imagem corporal, onde o indivíduo se enxerga menor e com menos volume muscular do que realmente tem.
Isso levaria a pessoa ao treinamento excessivo e desordenado, hábitos alimentares não saudáveis, na tentativa de corrigir a imagem distorcida.
Dias de descanso causam muita ansiedade nesses pacientes.
No estudo de Longobardi et al., (2017), Dismorfia corporal foi associada com transtornos dissociativos.
Dissociação é um fenômeno mental que desconecta pensamentos, emoções, memória e senso de identidade da pessoa.
A sensação é de que a pessoa está se observando de fora do corpo, como se estivesse se vendo em um filme.
Geralmente o paciente se comporta de modo estranho, diferente do que seria esperado.
Relações interpessoais sofrem declínio, pela dificuldade de entendimento do que está acontecendo.
Como puderam notar, o esporte bodybuilding por si só, pode causar stress no corpo e na mente, fazendo com que atletas apresentem sintomas que resultam em intenso sofrimento.
Por essa razão, gostaria de trazer os problemas à tona para discussão e informação.
No geral, esse é um esporte muito marginalizado, onde talvez o público pense que todo o trabalho é resultado de esteróides anabolizantes, se esquecendo da dedicação diária necessária de cada atleta.
A meu ver, parece muito injusto a falta de suporte, comparado com a rotina desses super-homens e mulheres que abrem mão de muitos prazeres momentâneos, para alcançarem seus objetivos.
O acompanhamento psicológico pode ser um forte aliado na busca de resultados mais expressivos e também na promoção de saúde mental e bem-estar psicológico.
Referências (APA):
Compartilhar Postagem