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Corpo, insatisfação e relacionamentos

A maneira como nos percebemos tem um impacto significativo em como nos relacionamos com o ambiente. Não podemos negar que, ao conhecer alguém, a primeira impressão é gerada pela aparência física. Personalidade e outros aspectos são percebidos mais tarde. Quando a insatisfação corporal está presente, os relacionamentos poderão ficar comprometidos, uma vez que esta resulta em falta de confiança e autoestima (que são necessárias par a construção de relacionamentos saudáveis). 

Quando falamos em insatisfação corporal, automaticamente pensamos em desaprovação do físico, que gera desconforto quando apresentado diante do espelho. Essa pode ser gerada por vários motivos, sendo o mais atual e provável, a comparação com outros (importante lembrar que aqui, estamos falando de insatisfação, e não de distorção de imagem). A ideia de como “eu devo me parecer” também trás alterações da percepção. Considero aqui também aqueles que legitimamente apresentam sobrepeso e se sentem mal com isso. Do mesmo modo, os indivíduos que são magros ou musculosos podem também sofrer de insatisfação corporal. Ou seja: independente da forma física, a insatisfação pode ocorrer, pois é um processo que envolve o estado emocional. Já percebeu que quando não estamos nos sentindo bem, tudo no mundo parece estar mal?

A insatisfação com a imagem corporal também pode esconder complicações mais profundas em relação ao desenvolvimento emocional do individuo. Como? Vou exemplificar: Há uma crença geral, que propaga a falsa idéia de que o “corpo perfeito” facilita os relacionamentos e torna o trabalho de se relacionar muito mais fácil. Então, a fantasia de que é preciso alcançar a melhor forma física para facilitar o trabalho de conquistar o outro, paira no imaginário de muita gente. Nesse ponto, muitos se esquecem de que é preciso também trabalhar as outras habilidades, tais como: empatia, carinho, paciência, dedicação para com o outro, e assim por diante. 

Na minha experiência clínica, já atendi muitas pessoas que alcançaram a melhor forma física, que conseguiram com dietas muito restritas, recursos ergogênicos e muita dedicação nos treinos, e mesmo assim se sentiam frustradas por não conseguirem ter sucesso no campo afetivo. Nesse momento, o corpo pode até ser um empecilho para o sucesso na conquista. Sério? Sim. Modelos sempre se queixam que as pessoas ficam inseguras e dificilmente iniciam conversa com ele(a)s, por medo da rejeição. Assim, uma série de fantasias são geradas e o distanciamento das pessoas acontece. Precisamos nos atentar ao fato de que é preciso exercitar também as habilidades humanas de conexão, e não somente o físico. A intervenção ideal seria exercitar o corpo e comportamento ao mesmo tempo. Algumas pessoas jogam a frustração toda da vida em cima de um “defeito” no corpo: braços finos, pernas gordas, abdômen envolto por camada de gordura, estatura ou qualquer outro defeito que as pessoas geralmente acham que tem. Então, à medida que o descontentamento com outros aspectos (relações, trabalho, vida social, família, vida amorosa) vão surgindo, os sentimentos negativos podem ser direcionados para a área de descontentamento no corpo. Assim a raiva e frustração com aquela parte pode se tornar muito intensa, até ferir profundamente a autoestima, resultando na piora dos problemas que talvez nunca tenham existido. 

Como o bodybuilding é um meio muito segregado e individual, com estilo de vida restrito (treino e dietas), aqueles que são introspectivos acabam se beneficiando dessa modalidade, por não achar difícil o processo individualizado. Extrovertidos sofrem um pouco mais no começo, pela necessidade de interação e socialização, mas depois se adaptam. Alguns, em prol dos resultados, acabam se isolando física e emocionalmente dos outros, resultando em perda de traquejo social para lidar com situações coletivas.

  A timidez é outro ponto importante para análise, pois esta pode ser a responsável por muitas defesas elaboradas na vida de muitas pessoas. Introversão como sintoma pode trazer sentimento de inadequação, independentemente da forma física. Especificamente nessa característica de personalidade, o “buscar” objetivos, explorar o meio e interagir, ficam aquém do desejado. Há uma barreira enorme entre a pessoa e o ambiente, com presença de insegurança e falta de repertório comportamental para se ajustar às demandas sociais. E como reação, as pessoas, consciente ou inconscientemente, vão buscar a compensação de suas carências através de outros meios, evitando o contato direto com outras pessoas. É o caso da internet.  Por isso, atenção, likes e elogios são perseguidos por muitos nas redes sociais. Do ponto de vista psicológico, essa estratégia de exposição pode trazer malefícios, pois a competição é grande e, caso exista a necessidade de se sentir importante através do olhar do outro, cada vez mais podemos sofrer de ansiedade em busca do chamar a atenção e atrair o outro. Essa estratégia pode conduzir a pessoa para um lugar sombrio e mais solitário ainda. O que iniciou como uma maneira compensatória através da busca interna por admiração, sentir-se amado(a) e importante enquanto pessoa, pode terminar em afastamento e isolamento ainda mais acentuado.

É importante refletir sobre o que realmente se quer alcançar, e se estamos realmente felizes fazendo o que estamos fazendo. Do contrário, frustração, isolamento e sentimento de inadequação tomarão conta do campo emocional, que resultarão em comportamentos não saudáveis para aliviar os sintomas.

Se questione, invista em autoconhecimento, trabalhe bem o seu corpo e a sua nutrição, porém pense que tudo isso precisa estar alinhado com seus valores. Do contrário, o seu bem-estar psicológico vai sofrer ataques constantes, simplesmente pelo fato de estar se distanciando do que é essencial para você. 

Eu particularmente gosto muito da técnica dos 5 minutos: antes de qualquer ação, se dê 5 minutos para pensar nos sentimentos, nas consequências e principalmente na motivação para qualquer decisão a ser tomada. Esse tempo faz com que as motivações superficiais percam força, aumentando assim o seu campo de percepção e de conexão com as suas vontades. Ouça o que o seu corpo e sua mente tem a dizer e seja muito feliz com o corpo que construiu. 

Um abraço!

 

Marcos 

 

 

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